quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Como Evitar o Estresse

Dr. Marco Aurélio Dias, falecido recentemente, era cardiologista e trabalhava no Instituto Dante Pazzanese, um dos maiores centros de cardiologia do Estado de São Paulo. No livro "Quem Ama não Adoece", dirigido ao público leigo, ele discutiu a influência das emoções nas doenças humanas, especialmente nas doenças do coração.

Cansaço ou estresse?
Às vezes, o indivíduo chega em casa depois de um dia de trabalho pesado, desaba sobre o sofá e geme –“estou estressado”-, mas tem a cabeça leve e sonha com um futuro mais tranqüilo e menos estafante. Isso não é estresse, é cansaço que se vence com algumas horas de repouso e de sono. No entanto, se as preocupações com a promissória no banco, o filho que não se acerta na vida, o risco de perder o emprego, os desencontros afetivos e a falta de perspectivas não o abandonam, em pouco tempo estará dominado por uma carga prejudicial de estresse.Evolutivamente, o homem não foi preparado para suportar o grau de tensão contínua e constante a que está exposto todos os dias. Ao deparar-se com a fera ameaçadora, o homem primitivo matava-a ou fugia. De volta à caverna, relaxava e recompunha o equilíbrio orgânico e emocional indispensável para sua sobrevivência. Hoje, o direito a essa pausa revigorante desapareceu da vida das pessoas. Mergulhadas nos compromissos e problemas, elas nem se dão conta de quanto corpo reclama dessa agressão permanente.Recomendar mudanças no estilo de vida pode parecer utopia. No entanto, se esse processo não for interrompido os males causados à saúde e à qualidade de vida podem tornar-se irreversíveis.
Como evitar o estresse
Drauzio - Já que não podemos evitar os problemas nem resolvê-los todos, qual a melhor maneira de enfrentá-los?
Marco Aurélio Dias - Como já salientamos, certo grau de estresse é inerente ao estar vivo e pode ser provocado por acontecimentos bons ou ruins. Por exemplo, se considerarmos duas importantes fontes de estresse, o casamento e a separação, veremos que, embora antagônicas, ambas são estressantes.Entretanto, se os efeitos do estresse comprometem a saúde, a qualidade de vida e os momentos felizes, é fundamental encontrar uma saída. Nesse caso, já que as pessoas não podem fugir dele, sugiro algumas dicas para ajudá-las a minorar seus efeitos nocivos.
Dica 1---BRIGA CONTRA O RELÓGIO
Estou convencido de que o tempo pode exercer pressão negativa sobre as pessoas. A falta de intervalo entre os compromissos e a preocupação em fazer o dia render representam os fatores mais imediatos de estresse na vida moderna. Para acabar com essa “briga contra o relógio”, é preciso tentar programar melhor a vida. Como? Evitando assumir compromissos em horários muito próximos uns dos outros, saindo de casa com tempo suficiente para enfrentar alguns imprevistos sem desespero, planejando melhor as atividades, estabelecendo prioridades e respeitando, o mais possível, o planejamento estabelecido para aquele dia.
Dica 2---ATIVIDADE FÍSICA

Atividade física regular é fundamental para o bem-estar das pessoas. Se me dissessem - só posso pôr em prática uma de suas dicas -, sem dúvida recomendaria a atividade física, porque ajuda a combater os outros fatores de risco, facilita a descarga das tensões acumuladas e diminui os efeitos nocivos do estresse.O indivíduo que tem uma atividade física regular, o que não significa treinar para ser atleta ou correr a maratona, geralmente não é obeso porque o excesso de peso deriva da desproporção entre o que se come e o que se gasta, deixa de fumar com mais tranqüilidade, baixa o nível do mau colesterol e eleva o do bom colesterol, controla melhor a pressão arterial. Quando falo em atividade física, insisto em três aspectos essenciais:
a) implementação de um estilo de vida mais ativo, isto é, procurar mexer-se sempre que possível. Quer alguns exemplos? Estacione o carro um pouco mais longe e caminhe até onde pretende ir. Esqueça-se do elevador e vá pelas escadas. Escolha lugares em que possa fazer as compras a pé;
b) movimentação das articulações - uma das coisas que mais comprometem a qualidade de vida das pessoas que envelhecem, é o enrijecimento das articulações. Os especialistas recomendam para quem trabalha sentado que, a cada 50 minutos, passe 5 ou 10 minutos se mexendo. Espreguice, mova a cabeça de um lado para o outro, para cima e para baixo, vergue a coluna, ative as articulações para preservar sua flexibilidade e movimentos;
c) conceituação de atividade aeróbica regular - quando mencionamos atividade aeróbica, muitos pensam nas academias onde as pessoas se exercitam até a exaustão. Considera-se aeróbico o exercício que faz com que o organismo use oxigênio como fonte de energia. Todos os indivíduos possuem um limiar aeróbico. Por isso, se mantido o esforço, o organismo utiliza outras fontes de energia que não o oxigênio, e o que era saudável passa a ser prejudicial.
A atividade aeróbica saudável é a que produz pouco cansaço e não deixa a pessoa ofegante, permitindo que a pessoa converse normalmente durante os exercícios. Além disso, deve ser regular. Não é aconselhável passar a semana atrás de uma escrivaninha e, aos sábados e domingos, esfalfar-se jogando bola. O recomendado é que haja certa regularidade na prática de exercícios. O ideal seria exercitar-se pelo menos três vezes por semana sem contar os sábados e os domingos. Outro ponto importante é o tempo que se dedica a essas atividades. Trinta minutos são suficientes para condicionar o organismo e trazer benefícios à saúde. Se a pessoa não agüenta os trinta minutos seguidos, pode dividi-los em três períodos de dez e beneficiar-se do mesmo modo. Há quem diga que não tem tempo. Meia hora por dia, todos arranjam, se quiserem. Para tanto, basta vencer a inércia inicial. Depois, a gente se acostuma e não consegue mais imaginar a vida sem atividade física.
Dica 3--- O PAPEL NOCIVO DA COMPETIÇÃO
A competição é um dos grandes males da vida moderna. É um mal para a sociedade e para o indivíduo. Cada um de nós se desgasta demais comparando conquistas e perdas pessoais com as dos outros. Com isso se perde a medida do que de fato nos traria satisfação e felicidade. É óbvio que devemos lutar por nossos sonhos e ideais, mas preocuparmo-nos apenas em aparentar superioridade é um contra-senso lamentável. Em busca de status e projeção, muitos se desgastam tanto que adoecem, fraudam a ética, violam as leis, abandonam a família por algo que, no fundo, não tem a menor importância.É indispensável não confundir competição com competência. Competência é querer fazer bem aquilo que se faz. Competição é desejar ser mais e melhor do que os outros. A competição traz consigo a inveja e a vaidade. Juntos, esses sentimentos podem amargurar a vida das pessoas. Quando cito a inveja, não me refiro à inveja saudável que impulsiona o indivíduo e o faz progredir. Se admiro alguém e isso me estimula a superar minhas dificuldades, essa inveja é construtiva. Se o sucesso do outro me incomoda e passo a combatê-lo, em geral subrepticiamente, essa inveja é perniciosa e o grande prejudicado é o próprio invejoso. Com a vaidade não é muito diferente. Certo grau de vaidade, todos devemos ter, até porque faz parte do instinto sexual atrair o interesse, o bem querer e a aceitação do outro. A encrenca começa, quando a vida passa a ser pautada pela opinião alheia. Longe de mim negar o valor da auto-estima. Condeno a vaidade que escraviza o projeto pessoal de vida em nome do aplauso ou da crítica dos outros. Há uma história que ilustra bem o que quero dizer. Um homem saía de casa aborrecido e passou por um passarinho que cantava. Xingou o pássaro e seguiu caminhando. Pouco depois, outro homem cruzou com o mesmo passarinho e lhe disse:- Que bom, passarinho, ouvir você cantando para alegrar as pessoas! e foi-se embora contente da vida.Em seguida, passou um terceiro que sequer prestou atenção ao canto do pássaro. Pergunta-se, então, qual dos três foi mais simpático ao passarinho e a resposta é nenhum deles, porque o animalzinho não estava preocupado com o que os passantes iam achar. Cantava pelo prazer de cantar ou para atrair alguma fêmea, quem sabe, para o acasalamento.
Dica 4---OS RELACIONAMENTOS
Estou convencido de que o segredo e a essência da qualidade de vida, da felicidade e, portanto, da saúde está na relação afetiva interpessoal que inclui não apenas o par amoroso, a família e os amigos próximos, mas todos aqueles com quem convivemos de uma maneira ou outra. Quem consegue gostar de gente e relacionar-se bem sofrerá menos os efeitos nocivos do estresse.Tenhamos ou não consciência disso, o objetivo primeiro de nossas vidas é sermos queridos e aceitos. Para atingi-lo, porém, é preciso implantar algumas mudanças em nosso modo de viver.Por conta das fragilidades interiores ou da insegurança, as pessoas têm medo de ferir-se nos relacionamentos afetivos e por isso cavam fossos, erguem muralhas, constroem paredes de vidro que impedem o toque e a proximidade com os semelhantes. Escondem-se atrás de armaduras com a falsa idéia de que assim estarão protegidos contra intrusos indesejáveis. Se conseguirmos , pelo menos em parte, arriar essas defesas e assumir nova postura diante das pessoas, seremos mais felizes e menos estressados.
Dica5---AS MUDANÇAS

Se continuarmos presos ao modelo imposto pela sociedade moderna, não vamos longe. Para mudar essa perspectiva, a humanidade precisa conscientizar-se de que vale mais a cooperação do que a competição, a colaboração do que a dominação. Vivam onde viverem, é preciso que, desguarnecidas de defesas inúteis, as pessoas aproximem-se umas das outras para estabelecer laços afetivos que permitam construir um futuro mais promissor para todos.
retirado de: drauziovarella.com.br/entrevistas

Aviso: Este blog não é um consultório psicológico. Se necessita de ajuda, consulte um profissional da área. As informações aqui contidas não têm caráter de aconselhamento, apenas de esclarecimento.

jesikapsicanalise@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário